Aula de step causa lesões, é por isso que não temos na nossa academia. Essa é uma frase que ouço com certa frequência e que veio à tona em uma conversa recente com uma amiga, fato que me motivou a escrever esse texto.

Precisamos parar de repetir aquilo que ouvimos por aí sem fundamento, principalmente quando se trata de um profissional de Educação Física. Essa amiga não é da área e estava apenas comentando o que ouviu de um professor que confia (e já adianto que não é um profissional ruim, talvez, mal informado).  Só que uma mentira dita muitas vezes torna-se verdade e então cria-se um mito como esse.

Para entender por que trata-se de um mito e os motivos que levaram à construção dele precisamos olhar para fatos históricos e pesquisas.

aula de step causa lesões

Aula de Step modalidade criada em laboratório

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Como uma modalidade que nasceu como opção de exercício para reabilitação do joelho poderiam causar lesões no próprio joelho? É um contra senso pensar assim.

A modalidade foi criada por Gin Miller, que era professora, e para se recuperar de uma lesão começou a fazer exercícios subindo e descendo de um degrau, por recomendação de seu fisioterapeuta. Achando o exercício entediante, colocou música e logo percebeu o excelente exercício cardiovascular que estava fazendo. Levou a ideia para a academia que trabalhava, onde foi muito bem aceita.

Pouco tempo depois a Reebok se interessou em fabricar o degrau (step) e contratou Peter Francis, consultor de Biomecânica do Comitê Olímpico (EUA), e a Doutora Lorna Francis, Professora de Treinamento Desportivo da Universidade de San Diego, para montar um workout com bases científicas. Após estudarem os efeitos fisiológicos e biomecânicos da aula de step montaram uma equipe de profissionais que rodou os Estados Unidos ensinado a nova modalidade para outros professores. Sendo assim a aula de step foi primeira modalidade praticada em academias realmente estudada para não causar malefícios a seus praticantes.

O que descobriram nessas pesquisas

Sobre o gasto energético

Quando comparado com a corrida e a caminhada, possui mesmo gasto energético da corrida e é três vezes maior que a caminhada.

Sobre a biomecânica

A aula de step, pode ser considerada uma modalidade de baixo impacto. No estudo feito por Lorna e Peter Francis, a Força de Reação do Solo (FRS) é menor do que o da corrida e ligeiramente maior do que o da caminhada. A força do 1° passo ascendente é similar ao de uma caminhada, ou seja, de 1,25 PC (peso corporal), já o maior impacto foi encontrado no 1° passo descendente, 1,75 PC, que é menor que o de correr.

Fundamentos da aula de Step

Toda modalidade de ginástica coletiva tem seus fundamentos. Eles permitem caracterizar a aula e criar parâmetros para que os objetivos sejam alcançados em pessoas com diferentes níveis de condicionamento físico, garantindo também a segurança dos praticantes.

No caso da aula de step existem características próprias na estruturação, organização e sequências pedagógicas envolvidas em dois aspectos: o equilíbrio dinâmico e a fluência da sessão.

Equilíbrio dinâmico: se refere ao balanço músculo–esquelético durante a aula. Nunca se deve trabalhar mais uma perna do que a outra, pois trabalhando desta forma repetidas vezes, há um aumento no risco de lesões.

Fluência: se refere à continuidade durante a aula que é garantida pelas transições. Esta representa a forma como os padrões motores estão conectados entre si, considerando-se a transferência de peso do corpo, a ação da força da gravidade e a inércia gerada pelos movimentos. Na prática isso significa que termina-se uma rotina ou sequência de uma lado com a perna pronta para iniciar do outro lado. Havendo essa fluência, garante-se também o equilíbrio dinâmico.

Há de se conhecer também as formas de execução: liderança simples e alternada. As famílias de movimento, orientações direcionais, traslados, classificação das sequências, grau de organização, divisão e estruturação da aula.

Intensidade, duração e frequência das aulas

Sabemos que para obtermos resultados com exercícios, para que ocorram alterações fisiológicas, dependemos da manipulação da intensidade e/ou volume do exercício. Nas aulas de step a intensidade do exercício pode ser manipulada a partir da altura do step, velocidade de execução, amplitude e combinação de movimentos.

Sabemos que manipular com essas variáveis traz um aumento no gasto energético, mas também aumentam os riscos de lesões. Para garantir a segurança nas aulas de step a plataforma deve ter no máximo 15 cm (valor que tem relação com o ângulo de flexão dos joelhos) e a velocidade da música até 136 bpm (que está relacionado com a capacidade do sistema neuro-muscular de responder ativamente ao impacto gerado pelas forças dos corpos), evitar giros (torção dos joelhos),  muitas propulsões (salto – aumento da FRS) e descer de frente (movimento de gaveta).

Em relação à duração recomenda-se que aulas para iniciantes tenham até 30 minutos por dia, pois sessões maiores podem aumentar o risco de lesões. Aulas destinadas à indivíduos treinados podem ter maior duração.

Já quanto á frequência das aulas sabe-se que as lesões ortopédicas aumentam quando associadas a uma freqüência maior de treinamento, estão geralmente relacionadas ao volume total de trabalho (não apenas as aulas de step), por isso a sugestão é de um dia de intervalo entre as sessões de treinamento para um mesmo exercício ou grupo muscular.

Mito: Aula de step causa lesões

Se você chegou até aqui entendeu que a aula de step nasce como forma de reabilitação dos joelhos, passa por diversos estudos, inicialmente feitos por profissionais altamente habilitados e que tem fundamentos muitos claros para garantir a segurança dos praticantes. Então como surge o mito de que aula de step causa lesões?

Com o passar dos anos e a “evolução” da modalidade, técnicas inadequadas foram sendo incorporadas às aulas de step por professores que desconhecem os fundamentos da aula. Elementos como aumento da plataforma, aumento da velocidade da música, coreografias complexas, com muitos giros e propulsões passam a ser usados com a justificativa de suposta criatividade na montagem das aulas ou com o objetivo do aumento da intensidade, denotando a falta de conhecimento técnico específico.

Com isso casos de lesões relacionadas à essa modalidade passam a surgir. Soma-se à isso o fato que a maioria das universidades não preparam o futuro profissional para a área do fitness e a procura de treinamento específico da modalidade cair. Temos então a combinação perfeita para a criação do mito, faltam profissionais qualificados no mercado e os que se apresentam como tal, desconhecem os fundamentos e contribuem para o aumento das estatísticas de lesionados.

Vale lembrar que não existe exercício proibido, existem pessoas que não podem fazer determinados exercícios e ainda, exercícios só causam lesões se não forem observadas as regras de segurança e ou forem mal orientados. Portanto antes de sair por aí alimentando o mito de que aula de step causa lesões recomendo que reveja toda a literatura sobre o assunto (um bom início está aqui) e quando for questionado sobre o motivo da academia não oferecer aula de step responda que na academia não tem aula de step por falta de profissionais qualificados.