Hoje foi apresentado no HU-USP (Hospital Universitário da Universidade de São Paulo), o Programa da Mulher Atleta. Trata-se de um projeto da disciplina de ginecologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) que tem por objetivo atender à demanda específica relacionada à saúda da mulher atleta promovendo o tratamento e prevenção de afecções ginecológicas e/ou hormonais. Além disso oferecer tratamento cirúrgico com menor impacto e rápida recuperação. De acordo com os responsáveis pelo programa, a idéia surgiu a partir do atendimento de atletas que apresentavam demandas específicas e que escapavam às avaliações habituais e interferiam diretamente em seu rendimento esportivo.

A coordenação do Programa da Mulher Atleta é feita pelo Prof. Dr. Paulo Margarido, chefe da Ginecologia do HU e da Profa. Dra. Katia Rubio da EEFEUSP (Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo) e já conta com outras quatro pessoas na equipe.

Profa. Dra. Katia Rubio e Prof. Dr. Paulo Margarido

A Mulher Atleta

O início da participação feminina brasileira em Jogos Olímpicos se dá em 1932, mas as primeiras medalhas são conquistadas apenas em 1996. O fato chamou a atenção da Profa. Dra. Katia Rubio e provocou um projeto de pesquisa. Os resultados da pesquisa apontaram várias questões e dentre elas, a falta de cuidados específicos com as atletas.
O tratamento dado para homens e mulheres atletas é o mesmo. Reflexo do movimento feminista? Talvez. O fato é que já dizia nossa poetisa do rock, Rita Lee: Mulher é bixo esquisito, todo mês sangra… E isso faz toda a diferença. O próprio Pierre de de Coubertin, quando disse que mulheres são sensíveis dos nervos, fez mais do que um comentário machista, foi uma constatação. Sim, nós mulheres somos diferentes! Não sofremos dos “nervos”, mas sofremos com os hormônios, o que na prática pode parecer a mesma coisa.

Variação hormonal feminina

Variação hormonal masculina

Os gráficos dizem tudo, nem é preciso entendê-los, as diferenças entre a variação hormonal de homens e mulheres deixam claro que somos diferentes. O bom técnico precisa respeitar as especificidades da mulher.

Durante a palestra foram dados inúmeros exemplos, inclusive de uma atleta que perdeu a vaga para os jogos olímpicos por estar menstruada durante a competição pré-olímpica. Imagine uma atleta treinar durante quatro anos e no momento onde deveria apresentar sua melhor performance ser atrapalhada pela variação hormonal, sendo que é possível ter controle sobre essa variável.

Esses são alguns problemas que podem atrapalhar a performance feminina causadas durante o período pré menstrual:

  • Diminuição da habilidade manual
  • Aumento do tempo de reação
  • Diminuição da atenção
  • Inchaço
  • Oscilações de humor
  • Falta de disposição

Um outro exemplo apresentado é a amnorreia (ausência da menstruação) causada por treinos muito pesados e/ou problemas nutricionais que pode acarretar a perda de massa óssea e assim aumentar a incidência de fraturas. A incidência de fraturas por stress na mulher atleta é 3x maior do que no homem.

Ironia do destino

Em 2004, como aluna da EEFEUSP, eu treinava Ginástica Olímpica dentro da Universidade e me preparava para participar dos jogos universitários. A rotina de treinos não era pesada, 1h e meia por dia, mas somava-se à mais 6 ou 7 horas de exercícios diários que eu realizava como professora de ginástica em academias. Nessa época sofri uma fratura por stress na coluna, com dores e sem desconfiar do diagnóstico, recorri ao HU. O ortopedista que me atendeu, sequer pediu um exame, me receitou anti-inflamatório e me mandou para casa. No mesmo HU que hoje toma essa iniciativa sem precedentes. Com as dores aumentando, busquei atendimento no CETE (Centro de Traumatologia do Esporte) que rapidamente fez o diagnóstico e o tratamento, mas nunca voltei a treinar.

Como funcionará o atendimento no Ambulatório da Mulher Atleta

Será feito um levantamento dos problemas pré-existentes, através de anamnese, exame físico, exames laboratoriais e de imagem. Com base nesses dados uma equipe multidisciplinar irá realizar o atendimento/tratamento específico para a necessidade daquela atleta. Posteriormente reavaliações mostrarão a efetividade do que foi feito, além da busca de informações junto à equipe e comissão técnica sobre o rendimento da atleta.

Qualquer mulher atleta poderá se beneficiar do serviço e não apenas as atletas de alto nível. O objetivo além de promover a saúde dessas mulheres é o estabelecimento de protocolos de pesquisas, pois trata-se de um programa de intervenção e pesquisa. Mesmo as atletas de categoria de base poderão usufruir do programa.

A princípio os atendimentos serão feitos em dois dias na semana, um dia no HU e outro no HC (Hospital das Clínicas), informações e marcações de consulta poderão ser feitas tanto pela atleta quanto por alguém da comissão técnica, através do e-mail: [email protected] ou pelo perfil do Facebook PROMA-FMUSP.