escrevi aqui sobre lesões no joelho de jogadores de futebol e chamei a atenção para erros na prescrição do treinamento falando especificamente dos desequilíbios musculares. De fato um estudo feito na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que analisou os prontuários médicos de jogadores profissionais de oito times, constatou que apenas 24,1% das lesões no futebol ocorrem por contusões causadas por colisão. Uma outra pesquisa publicada pelo British Journal of Sports Medicine que usava como exemplo a Copa do Mundo de 1994, constatou que 71% das lesões ocorridas não foram registradas como falta, levando a crer que boa parte dessas lesões também não foram causadas por colisões.

Além das contusões causadas por colisão, as outras causas de lesões no futebol seriam os desequilíbrios musculares, a alta velocidade, o excesso de treinamento e a fadiga física. Segundo esse levantamento da UNIFESP 72,2% das lesões ocorreram em membros inferiores, com predomínio na coxa (34,5%), no tornozelo (17,6%) e no joelho (11,8%) e ainda 39,2% de lesões musculares, 17,9% de torções e 13,4% de tendinites.

lesões no futebol

Entendendo as lesões no futebol

Se as pesquisas mostram claramente que as contusões por colisão não são as principais responsáveis pelas lesões no futebol, quem seria? Poucos dias antes de iniciar a Copa do Mundo de 2014 já tínhamos 55 jogadores que ficariam de fora do campeonato, por conta de lesões, o equivalente a 7,5% do total.

Na minha opinião as lesões no futebol estão mais para uma questão econômica do que física. O futebol movimenta bilhões, as temporadas de campeonatos sucedem umas às outras, quando não ocorrem simultaneamente. As equipes não se dão ao luxo de deixar com que os jogadores se recuperem suficientemente, e isso é um tremendo erro na prescrição do treinamento.

A crítica aqui não é para preparadores físicos, fisioterapeutas e médicos. É claro que profissionais que atuam nesse nível sabem do quão pode ser prejudicial uma recuperação insuficiente. Aliás esse é o principal desafio para esses profissionais, conseguir administrar treinos, recuperação e calendário de campeonatos.

A questão tem mais relação com o que chamamos de recuperação passiva (longos períodos de descanso),  do que com a recuperação ativa (logo após o exercício). É preciso entender que  recuperação é o processo de superar os efeitos da fadiga induzida pelo treinamento e o reestabelecimento do corpo do atleta ao seu potencial de rendimento total. Quando esse reestabelecimento não acontece, as lesões começam a aparecer, podendo chegar a extremos como overtraining e até Bíndrome de Burnout.

Uma forma de diminuir a incidência das lesões no futebol é observar comportamentos e predisposições específicos que são indicativos psicológicos para as lesões e muitas vezes são idenficados antes de indicadores fisiológicos. Quando isso acontece é possível prevenir as lesões oriundas da falta de descanso, desde que a equipe tenha um psicólogo a sua disposição que possa antecipar o aparecimento de problemas.

De qualquer maneira o desafio aos profissionais envolvidos permanece, cabe à eles descobrir formas de driblar o grande responsável pelas lesões no futebol: o dinheiro.