Com o título “Isso Machuca” o caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo da semana passada publicou uma matéria muito interessante que fala de um assunto tratado algumas vezes por mim, aqui no Fique INforma (leia: Pilates e dor nas costas, Personal Trainer: custa caro?, Para quem você entregaria seu corpo?  . As lesões causadas por má orientação por parte dos professores que atuam em academias.

 

Existem vários depoimentos de pessoas que buscaram a academia para entrar em forma, cuidar da saúde e saíram com lesões que chegam a incapacitá-las na realização de tarefas diárias. A reportagem levantou algumas questões que eu colocarei aqui, mas existem outras que também irei comentar.

O que está ocorrendo?

O primeiro fator a ser considerado é o crescente número de academias. O que leva mais gente a freqüentá-las. As lesões deviam ocorrer antes, mas aparecem mais hoje em função do aumento no número de freqüentadores. Isso parece lógico, mas porque um lugar que deveria primar pela saúde de quem freqüenta está machucando as pessoas?

Má formação: o número de faculdades de educação física cresceu muito e na mesma proporção caiu a qualidade no ensino. Já ouvi relato de colegas, docentes, que não podem reprovar o aluno. Sim, é isso mesmo, precisam a qualquer custo fazer seus alunos passarem, para avaliar vale tudo, prova, trabalho, resenha, quantos forem necessários. A fonte eu não revelo, a faculdade também não, isso poderia me trazer problemas, mas o alerta fica aí.

Valorização da aparência e juventude: Chegue na sua academia e pergunte quantos professores tem mais de 30 anos e mais de 40? A maioria das academias valoriza os mais jovens e bonitos em detrimento dos mais experientes e com boa formação, mas fora do padrão estético ditado pela empresa. Tem até estudo sobre isso, a matéria do Caderno Equilíbrio da Folha cita o estudo conduzido pelo Prof. Drdo. Alfredo César Antunes (UNICAMP), autor de duas pesquisas sobre o perfil de instrutores de academia.

Excesso de estagiários: A quantidade de estagiários atuando no lugar de professores ainda é grande apesar da fiscalização dos CREFs. Em geral as academias mantém um número mínimo de graduados.

Má remuneração: Acreditem há academias que pagam menos de R$ 5,00/hora para o professor de musculação (o estagiário ganha menos). Como é possível pagar cursos de atualização e comprar livros com esse salário? E pior é que sempre tem quem se submeta a isso, talvez por necessidade, mas as vezes por vaidade.

Apenas para ilustrar a situação vou relatar um caso que aconteceu comigo. Estava com alguns horários livres e participei de uma seletiva de professores para uma grande academia em São Paulo. Passei na peneira, que consistia em participar de uma aula prática, ministrar um trecho de aula aeróbia e uma provinha teórica, então fui convocada a participar de escolinha de excelência. Trata-se de um treinamento onde os selecionados aprendem tudo sobre o funcionamento da academia e sobre a padronização das aulas, tem cerca de 3 meses de duração, não é remunerado e também não garante a contratação. Eu compareci ao primeiro encontro. Após sermos saudados pelo coordenador ele nos disse: “Se vocês estão aqui pensando que vão ganhar dinheiro, que ficarão ricos, esqueçam! Vocês ganharão experiência e status por trabalhar nesta que é a maior rede…” Ok, quando eu optei por cursar Educação Física não foi com o objetivo de enriquecer, mas daí a dizer que vou trabalhar por um salário baixo. Fiquei até o final, por educação, e dei uma desculpa para não retornar. De fato trata-se de uma das maiores redes, se não a maior do país. E tem muita gente trabalhando lá, inclusive amigos meus.

Falta de questionamento:Os alunos não tem o hábito de questionar  e aceitam qualquer resposta, pois não são fisicamente educados. A falha vem da base, da educação física escolar. Se a educação física na escola cumprisse com seu papel as pessoas teriam um conhecimento maior sobre seu corpo e o movimento e teriam condições de questionar a atitude de alguns professores. É bom lembrar que os objetivos da Educação Física são: ensinar ao aluno a apreciar, usufruir e gerenciar seu exercício.

O que fazer?

A matéria da Folha sugere que uma das soluções é buscar o acompanhamento individualizado e apesar de trabalhar como Personal Trainer, eu discordo. Não é justo que para ter um bom atendimento tenha que se pagar caro por isso. É preciso exigir uma melhor qualificação profissional e isso passa pela formação e remuneração do professor. Uma das saídas seria haver uma fiscalização nesse sentido por parte do sistema CREF/CONFEF, os conselhos que regulamentam a profissão.

De qualquer forma enquanto isso não acontece podemos tomar algumas medidas para prevenir lesões:

  • Informação: Informe-se, questione, pergunte. Aluno bem informado não faz qualquer exercício e tem condições de discordar do professor.
  • Realize avaliação médica e física: Conhecer suas limitações é fundamental para saber o que pode e o que não pode ser feito. Comunique suas patologias ao professor e desconfie se ele não quiser respeitar seus limites.
  • Respeite seu corpo: Dor e cansaço são sinais de que está na hora de ir mais devagar.

Exija qualidade seu corpo merece!