Há alguns dias me deparei com um texto que narrava a história de uma fisioterapeuta, praticante de CrossFit e que acabou por desenvolver uma doença chamada rabdomiólise, por ter passado dos limites na prática de exercício intenso. O texto vem ao encontro de uma publicação que fiz motivada pela enxurrada de comentários de pessoas que tem passado mal na academia (não necessariamente no CrossFit), e me levou a escrever novamente sobre o assunto tamanha a gravidade do que pode acontecer quando o esforço excede o razoável, fato que tem se tornado cada vez mais comum.

A rabdomiólise é uma síndrome causada pela quebra (lise) rápida do tecido muscular esquelético e pode ser causada por fatores físicos, químicos ou biológicos. Neste texto vou me ater apenas aos fatores físicos, já que o objetivo é alertar sobre a prática de exercícios de altíssima intensidade. A rabdomiólise pode causar insuficiência renal aguda.

Exercício intenso pode causar insuficiência renal

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O processo que nos faz aumentar a massa muscular, trocando em míudos, acontece pois com o exercício causamos pequenas lesões nos músculos que ao se recuperarem ficam mais fortes e aumentam de volume, até aqui tudo normal. Ocorre que quando essas lesões são demasiadamente grandes colocamos nosso organismo em risco. Mas grandes quanto? Para poder mensurar basta imaginar que a rabdomiólise é comum em pessoas que passam por grandes desastres como terremotos e bombardeios e tem membros esmagados. É desse nível de lesão que estamos falando.

Praticantes de esporte estão sujeitos a desenvolver a rabdomiólise e quando realizam exercícios extenuantes em locais quentes, úmidos e com a hidratação comprometida, podem chegar a ter insuficiência renal aguda. E é aqui que está o problema, uma condição que ficava restrita a atletas ou soldados, tem sido cada vez mais comum em academias, principalmente com o advento das atividades conhecidas como HiiT, o CrosFit e outras.

Então não posso fazer CrossFit ou Hiit?

Não é a atividade em si que causa a rabdomiólise, mas um conjunto de fatores que é mais comum nessas atividades do que em outras. E o que faz toda a diferença é a orientação que você irá receber nessas práticas. Além de ser formado em Educação Física o profissional que irá montar e acompanhar esses treinos deve ter feito cursos específicos, além de ser desejável que tenha alguma vivência.

Sim, repito aqui, não basta apenas a graduação em Educação Física. Ela dá a base, é obrigatória, mas não dá o conhecimento específico. Neste caso faz parte desse conhecimento específico saber não apenas os benefícios, mas os riscos característicos de cada tipo de prática de esportes e exercícios físicos.

Cuidados na prática de exercícios intensos

Só para lembrar que a intensidade do exercício tem relação direta com o condicionamento físico de cada pessoa, ou seja é individual! O que é intenso pra mim pode ser leve para você! 

  • Só faça exercícios com a orientação de um Profissional de Educação Física;
  • Ouça o seu professor, se ele disse que está exagerando, ele tem motivos para isso;
  • Aprenda a conhecer o seu corpo. Exercício não dói, mas pode causar incômodo. Exercício não faz vomitar, nem desmaiar, se isso está acontecendo algo está muito errado;
  • As lesões são mais comuns na fase excêntrica do exercício. Embora seja eficaz para o ganho de força, exercícios que aproveitam essa fase devem ser feitos sempre com a indicação de um profissional;
  • Evite exercícios realizados em escala progressiva. Eles tem mais chances de causar problemas do que aqueles que utilizam outras estratégias;
  • O aumento do volume do treino deve ser gradual e respeitar o nível de condicionamento individualmente. Nada de copiar o que o amigo está fazendo;
  • Evite se exercitar em ambientes quentes e úmidos;
  • Mantenha-se sempre hidratado. A sede é o primeiro sinal de desidratação.

Exercícios com maior incidência

A repetição excessiva de exercícios que o indivíduo não está acosrumado é o que causa a rabdomiólise induzida pelo exercício. Entre os mais comuns estão:

  • Flexões de braços;
  • Exercícios pliométricos;
  • Maratonas;
  • Caminhadas longas.

Rabdomiólise – entenda o que é e conheça os sintomas

Já sabemos que a rabdomiólise é causada pela quebra rápida do tecido muscular esquelético e que pode levar a insuficiência renal aguda (IRA). Quando ocorre essa quebra dos músculos uma grande quantidade da enzima CK (creatina quinase), que tem papel regulador no metabolismo dos tecidos contráteis, é liberada na corrente sanguínea e é ela que pode causar o problema nos rins. Além disso também é constado um aumento no ácido úrico e outras enzimas.

A quantidade normal da CK no sangue é de até 130 UI / ml em homens e até 110 UI / ml nas mulheres e nos casos de rabdomiólise podem ultrapassar a marca dos 10.000 UI/ml. Há relatos que passam de  1.000.000 UI/ml!!! A incidência de IRA em pacientes com rabdomiólise varia de 16,3% a 33%.

Sintomas

A rabdomiólise é antiga, o Velho Testamento relata uma “praga”, que afligiu os Judeus durante o êxodo, bastante semelhante aos sintomas conhecidos hoje, existem relatos também durante as duas grandes guerras. Foi na Segunda Guerra que se estabeleceu sua relação com relação com a IRA.

Sintomas mais comuns

  • Fraqueza muscular;
  • Inchaço e dores musculares;
  • Urina escura (parece sangue);

Sintomas relacionados à complicações

  • Insuficiência renal, que pode causar inchaço das mãos e dos pés;
  • Diminuição da produção de urina;
  • Falta de ar, uma vez que há acúmulo de fluido nos pulmões;
  • Letargia;
  • Fraqueza;
  • Sintomas de hipercalemia (fraqueza, náuseas, tontura);
  • Coagulação intravascular disseminada. Pode se apresentar como um sangramento inexplicável.

Se você caiu nesta publicação pois desconfia ter o problema. Não perca seu tempo fazendo comentários, pois não sou médica e não irei responder. Procure imediatamente ajuda médica.

O que está acontecendo?

Fico me perguntando o que está acontecendo com a prática de exercícios, que me obriga a escrever sobre riscos seríssimos para a saúde que o exercício pode causar, em um site que deveria trazer apenas informações sobre os benefícios dele. A única resposta que encontro é a falta informação sobre o assunto. Por que não acredito que se as pessoas tivessem a menor noção da gravidade do que podem enfrentar por esse excesso, continuariam com essa insanidade.

No meu entender há muitos fatores que têm levado as pessoas a cometerem excessos nas suas práticas esportivas e de exercícios. Talvez a mais relevante seja o acesso que tem à publicações feitas nas mídias digitais, sejam em redes sociais, sejam  em sites ou em vídeos.

É muito legal quando conseguimos fazer algo desafiador, logo queremos contar para os amigos, dividir nosso feito com eles, fazemos isso desde sempre. Só que hoje, não são só os amigos que vão ficar sabendo, mas centenas, milhares, milhões de pessoas que poderão acompanhar a nossa performance. E quando aquilo que fazemos começa a despertar o interesse de muitas pessoas, quando elas começam a desejar ser igual a nós, desejam conseguir fazer o mesmo que nós, quando nos tranformamos em web celebridades, passamos a influenciar a vida dessas pessoas. Essa influência somada a falta de conhecimento sobre seu próprio corpo e sobre os efeitos do exercíco, causada por uma educação física escolar deficiente, nos leva ao ponto onde estamos.

E não estou me referindo apenas aqueles que não são formados em educação física e pipocam por aí nos seus instagrams e youtubes da vida, me refiro também aos profissionais que embora tenham um diploma e um registro que chancelam a sua atuação, acabam sendo péssimos exemplos para pessoas que nem imaginam o quão prejudicias podem ser aquelas práticas físicas, mas se espelham neles.

Antes de sair por aí publicando suas proezas, se coloque no lugar de quem vai consumir aquela publicação. Será que essa pessoa realmente entendeu a quem se destina aquele exercício? Sim, porque não existe exercício proibido, mas pessoas que não podem fazer determinados exercícios. Você deixou isso claro, pois muita gente busca na internet para fazer por conta própria, pois acredita no resultado que você está mostrando com seu corpo e habilidade.

Se você é Profissional de Educação Física, reavalie a forma que divulga a si e o seu trabalho e pense de que forma pode estar influenciando a vida das pessoas. Saia da caixinha! Quer fazer um vídeo pegando pesado, explique quem pode fazer o mesmo. Vai fazer uma foto com exercício que mais parece contorcionismo, vale a mesma dica. Vai mostrar seus músculos e abdomen tanquinho para conquistar mais alunos? Cuidado o tiro pode sair pela culatra (leia esse texto)!

E para você que vai na onda do exercício intenso, lembre-se que práticas tidas como saudáveis, só são saudáveis dentro de determinados limites, até água em excesso pode ser prejudicial. Então antes de sair por aí cometendo insanidades só porque está na moda ou porque alguém disse que é legal, informe-se. Procure a ajuda de um profissional sério. O excesso de exercício pode ser tão ou mais prejudicial do que a ausência dele.

Fonte: GSSI

Texto publicado pela primeira vez em: 31 de março de 2015.