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Valorização profissional. Os dois lados da moeda, na academia.

Discussões sobre a valorização profissional do PEF (Profissional de Educação Física), estão sempre presentes na rede, nas rodas de bate papo, nos comentários dos sites, principalmente em textos que como esse, se propõe a falar sobre o assunto e geram grande polêmica. A bem da verdade é que não é fácil colocar o dedo na maior ferida dessa categoria.

Se por um lado os PEFs reclamam dos baixíssimos salários oferecidos, indignando-se com os valores das horas aula anunciadas, por outro empresários do setor reclamam da qualidade dos profissionais e afirmam que não podem/não conseguem pagar mais aos profissionais. E aí temos o impasse e começa o jogo de empurra, pois ambos do seu ponto de vista tem razão.

 

Valorização profissional: o lado dos PEFs

Acredito que a maior dificuldade em melhorar o salário do PEF nas academias esteja na sua auto-valorização. Todo mercado funciona na base da oferta e da procura, enquanto existirem vagas ofertadas por salários ínfimos e que forem preenchidas, outras vagas com salários ínfimos serão criadas.

É fato que todos precisamos trabalhar, uma boa parte para sustentar a família e na hora do sufoco o pouco é melhor do que o nada. Já passei por situações assim e trabalhei por muito, mas muito pouco, alimentando esse círculo vicioso e nessa discussão estou excluindo aqueles que se encontram nessa situação, pois ela existe em qualquer segmento de mercado e não é um problema exclusivo dos PEFs.

Outro ponto importante a ser entendido nessa lei de oferta e procura é que a oferta de PEFs hoje é muito maior do que há 20 anos.  Não precisa ser gênio da matemática para entender isso. No início da década de 1990 tínhamos na Grande São Paulo apenas seis faculdades de Educação Física, segundo dados do INEP, existiam em 2011, 855 cursos espalhado pelo Brasil. Hoje no Estado de São Paulo somos mais de 100 mil profissionais registrados no CREF. Embora o número de estabelecimentos também tenha crescido, a oferta de mão de obra continua maior do que a demanda.

Também não se pode esquecer que a Educação Física é uma profissão procurada por muita gente humilde, pobre mesmo, que inspirada por seus professores vêem na EF uma forma de melhorar a sua condição social, e mesmo ganhando muito pouco é mais do que conseguiriam de outra forma, com outro trabalho. O Brasil é imenso é a realidade do Sul/Sudeste é diferente da realidade de outras regiões. O que é pouco para uns, pode ser muito mais do que outros poderiam imaginar ganhar.

Para mudar esse panorama é preciso que haja uma auto-valorização, que os profissionais não aceitem trabalhar por valores muito baixos. Ao invés de criticar os colegas que estão nessa situação, sem conhecer a realidade que a pessoa vive, que a ajudem a crescer e melhorar, orientando e criando soluções. Se organizar através dos sindicatos da categoria, lutar por pisos salariais mais justos também é uma forma de mudar essa realidade.  – Viu gente, eu disse SINDICATO, os CREFs não são responsáveis pelo piso salarial – informar-se sobre a legislação é o primeiro passo para não sair por aí falando bobagem!

Ao se auto-valorizar o profissional (qualquer profissional), precisa estar ciente que apenas uma graduação, quem sabe uma pós, não bastam. Manter-se atualizado é fundamental para quem deseja crescer no mercado, seja através de cursos, palestras, leituras de livros e artigos. Embora seja óbvio, é bom reforçar que o domínio da Língua Portuguesa oral e escrita é essencial, é o mínimo que se espera de alguém com curso superior que almeja ser bem remunerado.

Valorização profissional: o lado dos empresários

Engana-se aquele que pensa que ser empresário no Brasil é uma tarefa fácil. Na maioria das vezes o que acontece com o empresário, de qualquer setor, é que ele não sabe, não consegue administrar o seu negócio e enfia os pés pelas mãos. Quatro em cada dez empresas fecham as portas após os dois primeiros anos, segundo dados do IBGE. Qualquer negócio visa o lucro, e não é porque a academia está lotada de alunos que o lucro existe. Ela pode faturar alto e ainda assim estar no prejuízo.

O corte de funcionários e a má remuneração é apenas mais um item na enorme lista “vou salvar o meu negócio” do empresário que está vendo seu investimento ir pelo ralo. Em geral ele já tentou todas as alternativas que conhece, fez promoções, abaixou o preço, colocou a academia em sites de venda coletiva e nada deu resultado. Começa a reduzir horários, demitir e contratar por menos. Nada deu resultado porque ele não consegue criar soluções verdadeiras, por que essas soluções não resolvem o problema. Dá época que comecei a trabalhar na área (década de 1990) até hoje perdi a conta da quantidade de academias, redes inclusive, que desapareceram, outras que continuam aí e que passaram por maus bocados, incluindo a péssima remuneração dos seus profissionais como parte da política de sobrevivência da empresa e que hoje mudaram radicalmente o seu posicionamento, como é o caso da Bio Ritmo (leia aqui).

No Brasil existe uma cultura de que lucrar é feio, que o empresário bem sucedido é ladrão. Quem pensa assim esquece que o empresário que lucra é aquele que gera emprego, é o tem mais condições de pagar um salário digno. Entenda que é muito mais fácil ganhar dinheiro investindo no mercado financeiro, do que abrindo um negócio e que quando a pessoa faz a opção por ser empresário é porque a possibilidade de lucro é maior. Quando o cara desiste de ser empresário e passa a investidor no mercado financeiro, ele deixa de gerar emprego! Da mesma forma que o empregado quer ter um salário maior o empregador também quer ganhar mais, ou alguém duvida disso? Quem não está satisfeito em ser empregado, que mude de lado!

A saída para empresários que se encontram nessa situação é se informar sobre o mercado, estudar mais sobre boas práticas de administração e marketing específicas para o segmento das academias. Participar de cursos que possam agregar valor ao seu negócio, ou até contratar empresas/profissionais que possam prestar consultoria em fitness. Um outro ponto às vezes mais simples e pouco explorado é ouvir o que o cliente e funcionários tem a dizer.

Os dois lados da moeda

É claro que existe gente que paga mal porque tem quem trabalhe por pouco, é claro que tem profissional que faz corpo mole porque ganha mal, isso vira o tal do Efeito Tostines.

É claro que existe gente que pouco está se importando com a qualidade do trabalho, com a qualidade do profissional que contrata.  Assim como existe gente acomodada que acha que fazer um curso superior basta para ter um emprego bom. Existe gente mal caráter, gente mesquinha e preguiçosa em qualquer lugar, em qualquer segmento de mercado e da sociedade. E não é você esperneando, reclamando que essas pessoas vão mudar.

Comece a mudar pelo seu comportamento, olhe para você e veja se está fazendo a sua parte. Coloque-se no lugar do outro, se você é empresário, pense como seria viver com o baixo salário do professor, se você é professor pense em como fazer para manter o negócio e ainda lucrar alguma coisa.  Não importa de qual lado da moeda você está, a mudança só vai acontecer quando você começar a pensar fora da caixinha e tiver atitude pró ativa para mudar.

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