O caso do atropelamento de Rafael Mascarenhas, 18 anos, filho da atriz Ciça Guimarães, que resultou na morte do rapaz no dia 20 de julho, me fez refletir sobre a questão da segurança nos esportes radicais.

 

Durante seis anos (2000-2006), trabalhei com esportes radicais, primeiro como recepcionista e coordenadora de eventos em um ginásio de escalada em São Paulo, a Casa de Pedra e depois como professora de escalada para crianças em diversas escolas da cidade.

A primeira lição que aprendi na Casa de Pedra é que a segurança vem em primeiro lugar. No ginásio nada era feito sem pensar muito bem nas consequências, algumas vezes chegávamos a ser chatos com os clientes para que cumprissem com as normas do ginásio. Subir paredes sem equipamento de segurança só até uma linha amarela que demarcava uma altura de aproximadamente 3m, mesmo assim colchões deveriam estar posicionados em baixo e um colega precisava ficar próximo para auxiliar em caso de queda. Acima dessa altura só com equipamento homologado, que deveriam seguir normas internacionais. Para escalar no ginásio era preciso passar por uma instrução básica, crianças menores de 12 anos só acompanhadas e outras tantas regras que garantiam uma certa tranquilidade, ainda assim presenciei pequenos acidentes. Algumas quedas, torções, nada muito sério.

Na época em que trabalhei nas escolas, lembro-me do tempo que levávamos explicando para as crianças todos os cuidados que deveriam tomar, elas tinham uma boa noção do que não era seguro, uma checava o equipamento da outra e aprenderam que só podiam escalar em locais permitidos e sempre acompanhadas de um professor. Até os menores sabiam manusear os equipamentos e levavam muito a sério as questões ligadas à segurança. As turmas de adolescentes faziam saídas para a rocha e só confiavam um nos outros, se algum professor indicasse que o local era perigoso, a escalada, por mais legal que pudesse parecer, era descartada.

Esportes radicais levam essa designação por envolverem um certo grau de risco calculado, é a triangulação entre cálculo, percepção e gerenciamento dos riscos.

“Atividades ou eventos que têm incertezas quanto aos resultados ou conseqüências, em que as incertezas são componentes essenciais e propositais do comportamento?(Machlis & Rosa, 1990:162; in Spink 2001).”

Cada modalidade, seja de ação ou de aventura, conta com determinados equipamentos de segurança que podem não impedir os acidentes, mas os minimizam ao máximo. Na escalada, são cadeirinhas, cordas, mosquetões e fitas. No rafting, coletes salva-vidas e capacetes. No motociclismo, capacete e vestimenta em tecido apropriado. No surf, roupas de neoprene. No Skate, capacete, e protetores para joelhos, cotovelos e mãos e assim por diante.

Além do uso dos equipamentos, a segurança passa pelo conhecimento técnico, que envolve a própria prática, a avaliação dos equipamentos e do local onde a prática irá ocorrer. Como escaladora sei que cordas com mais de 5 anos, mosquetões com fissuras ou que não travam direito, fitas que foram abandonadas, devem ser descartados. Paredes com agarras soltando, com cordas mal fixadas ou com nós errados, não devem ser usadas. Locais onde pedaços de rocha se desprendem facilmente não devem ser escalados. E cada modalidade radical tem suas particularidades.

E o que dizer do skate? Será que um túnel, ainda que fechado ao tráfego, era um lugar seguro para a prática? Diferente de ruas que têm o tráfego interrompido para a prática de atividades de lazer, que são sinalizadas para tal, no túnel onde Rafael Mascarenhas e os amigos estavam andando de skate o uso desse equipamento ou de bicicletas era proibido, ainda que o tráfego estivesse interrompido para os carros. O túnel não era um local seguro para praticar esportes e seus praticantes deveriam ter levado isso em consideração. Rafael e seus amigos foram negligentes, o que não exime a culpa do motorista que estava trafegando em local proibido, possivelmente em alta velocidade,negou socorro, etc.

Antes de optar pela prática de esportes radicais, seja ele qual for, pense em todas as possibilidades e considere que realmente cada uma delas pode acontecer, faça o máximo que puder para minimizar as chances de algo dar errado, se estiver fora do seu alcance desista, pois nos esportes radicais, é assim: a negligência pode ser fatal.