Exigir que alunos, independente do nível de ensino, façam prova prática que avalia desempenho, na escola, é retrocesso.

Esses dias recebi um pedido de uma amiga, cuja identidade vou preservar, perguntado se eu tinha o protocolo de prova prática para ingressar na Escola de Educação Física da USP. Expliquei que não se faz mais prova prática há muito tempo, mas que lembrava da prova e aproveitei para questionar o motivo. Para minha surpresa e indignação o Colégio Visconde de Porto Seguro, renomada instituição de ensino em São Paulo, onde já tive meu filho matriculado, pretende aplicar uma prova prática de Educação Física nos alunos do Ensino Médio.

Depois sugerir que  argumentasse sobre o absurdo em se avaliar desta forma na Educação Física Escolar, ela me explicou que a decisão partiu da diretoria que não há nada a fazer, que o colégio busca um protocolo de testes usado no Brasil, pois as escolas na Alemanha (para quem não sabe o Porto Seguro é uma escola alemã), utilizam um protocolo do governo e ainda me informou que os adolescentes também farão prova teórica.

Tentando ajudá-la e também aos pobres dos alunos que serão submetidos à algum tipo de teste sugeri um protocolo do CENESP usado pelo PROESP-BR, que no meu entender, de como deve ser a Educação Física Escolar, seria a opção menos ruim.

Porque prova prática que avalia desempenho, na Escola, é retrocesso.

Podemos responder à questão com apenas uma palavra: exclusão.

Qualquer tipo de teste de aptidão física, ainda que seja classificatório (no caso de concursos), é excludente, pois passam os mais aptos e os menos aptos ficam. Em um processo seletivo para a Polícia, por exemplo, é compreensível, mas qual o objetivo de realizar um teste de aptidão na escola?  – Com certeza tem alguém lendo o texto e dizendo: ah, mas o teste não vai reprovar ninguém! –

Ótimo!!!! O teste não vai reprovar o aluno, então novamente, para que serve??? Serve para excluir.

Prova prática que avalia desempenho, na escola, é retrocesso, pois serve para excluir socialmente os menos aptos, para apontador o dedo no nariz do gordinho, para dar risada do descoordenado, para lembrar ao deficiente físico que ele é incapaz de participar dessa atividade escolar. Esse é o resultado a curto prazo. A médio/longo prazo, criamos adultos que fogem da atividade física como quem foge da cruz, provavelmente o grupo de adultos que mais se beneficiaria da prática.

Educação Física Escolar inclusiva

A avaliação na Educação Física Escolar

Sou totalmente a favor da avaliação na Educação Física Escolar, mas uma avaliação que consiga medir se os objetivos da Educação Física Escolar foram atingidos e não que aponte o dedo para quem é pior. Entendam como objetivos da Educação Física Escolar a capacidade do aluno em apreciar, usufruir e gerenciar sua própria atividade física.

A avaliação na Educação Física Escolar, pode resgatar o que foi perdido há muito tempo, que é o significado da Educação Física na Escola. A maioria das outras disciplinas tem um significado para o aluno, ainda que seja apenas para passar no vestibular, têm um propósito. E a Educação Física, qual é o significado dela?

Também tenho claro o significado da Educação Física Escolar: qualidade de vida, para a vida toda. No mais amplo sentido dessa expressão. E tudo que uma prova prática que avalia o desempenho, na Escola, não promove é a qualidade de vida, principalmente quando aplicada em adolescentes com todas as dificuldades que têm nas relações com o corpo.

O que é bom na Alemanha, na França nos Estados Unidos, não necessariamente será para o Brasil. Existem diferenças culturais enormes que não nos permite simplesmente pegar de lá e aplicar aqui. Podem no máximo, na melhor das hipóteses servir de inspiração para criarmos metodologias que se apliquem à nossa realidade. A Educação Física no Brasil está entre as melhores do mundo e temos diversos indicadores disso, principalmente fora do âmbito escolar.

Peço aos pais que dêem mais atenção ao que acontece nas aulas de Educação Física na escola e que não aceitem uma Educação Física qualquer. Peço que briguem pelo direito que seus filhos têm de serem respeitados no seu desenvolvimento físico e motor e não admitam que sejam rotulados.

Peço aos  profissionais de educação física, nomeadamente aos que trabalham na escola, que dediquem mais tempo a pensar, planejar, executar e medir. Peço que argumentem com pais, professores e diretores, sobre a relevância e o impacto da sua disciplina na vida das pessoas. Peço deixem, de uma vez por todas, de apenas reproduzir o que que acham que pode ser bom para os alunos e que respeitem o desenvolvimento físico e motor de cada um. Peço que digam não à uma prova prática que avalia o desempenho físico na escola e façam valer todos os seus anos de estudo e dedicação.