Body Systems é um sistema de aulas de ginástica pré-coreografadas que nasceu na rede de academias da Nova Zelândia, Les Mills, em 1980. O que motivou o nascimento dos programas foi a percepção de que a sala de ginástica é o espaço mais rentável da academia e assim sendo precisava de atenção especial. Os Programas foram trazidos para o Brasil em 1997.

body system

Body Systems: vantagens

É inquestionável que a principal vantagem de se aderir aos programas é o marketing agressivo. A empresa investe em um intenso treinamento tanto dos professores quanto dos gestores da academia para a implementação e divulgação das aulas. Seguindo a cartilha a risca não há como o programa não funcionar, é garantia de aulas cheias.

Ainda nessa linha, se pensarmos em academias geridas por pessoas que não são da área, optar pelo programa também garante uma certa qualidade nos professores contratados, uma vez que para ministrar as aulas é necessário passar por treinamento contínuo. O próprio fato de ficar preso à uma aula pré-coreografada evita “invencionices”. Grandes academias conseguem, através de reuniões técnicas, criar um padrão de qualidade para as aulas, nas médias e pequenas isso é mais difícil, com os programas tudo fica dentro do padrão.

Como a cada três meses são lançados novos mixes de aulas e a cada novo mix, um novo CD, os professores trabalham sempre com músicas vibrantes e atuais.

Para professores inexperientes que desejam se lançar no mundo da ginástica, os programas podem ser uma excelente opção. As aulas estão prontas, o que facilita a vida de quem não tem experiência. Recebe-se um material bastante completo e detalhado sobre as aulas, com vídeo e roteiro com passo a passo o que deve ser feito, inclusive com dicas de execução e do que falar para o aluno. O único trabalho é ensaiar, para ter tudo decorado e não errar na hora da aula.

Body Systems: desvantagens

Nos primeiros anos da década ter os programas da Body Systems era um diferencial para a academia. Custava caro para se filiar, custava caro para fazer os cursos e não eram muitos os estabelecimentos que ofereciam os programas. O Body Pump (aula neuromuscular com barras e anilhas), revolucionou o mercado, academia legal era a que oferecia pelo menos essa opção e matrículas eram fechadas por esse motivo. Hoje é possível encontrar os programas em qualquer academia, mesmo nas menores e mais baratas. Se antes as pessoas pagavam caro com a desculpa de terem aulas da Boby Systems, hoje isso não faz mais sentido. Os programas se popularizaram e deixaram de ser um diferencial para o negócio.

Decorar as aulas pode não ser tão simples assim. Por mais que venha tudo mastigado, os professores precisam dispender tempo para decorar os novos mixes. Em uma rotina corrida, muitas vezes trabalhando em mais de um lugar, com diferentes tipos de aulas, pode ser bastante complicado.

O maior dom do professor de ginástica é a criatividade. O processo criativo da aula, muitas vezes é mais prazeroso do que a aula propriamente dita. Ministrar durante três meses a mesma aula (essa é a proposta), pode ser desmotivante para o professor e também para os alunos, mesmo sendo possível trocar uma música do mix, pela de mesmo número de outro, para variar um pouco, sem prejuízo da estrutura da aula.

Apesar dos aficcionados pelos programas garantirem que não, biomecanicamente, muitos movimentos propostos podem levar a lesão. Alguns pelo próprio movimento, volume de repetições, intensidade, outros pela falta de supervisão na execução, uma vez que o professor faz a aula junto e não pode parar para corrigir sob pena de perder o fio da meada na coreografia. Ainda que seja sugerido a presença de outro professor ou estagiário na sala, essa não é a realidade na grande maioria das academias.

Minha posição

Dou aulas de ginástica desde 1990, interrompi por um tempo e agora trabalho há mais de oito anos, sem interrupção. Peguei o auge da Body Systems e ví surgir outros programas pré-coreografados. Não fiz o curso de nenhum deles, apesar de ter feito aulas de quase todos, para poder conhecê-los. Tive acesso ao material didático e fiquei impressionada com a sua qualidade. Perdi oportunidades em diversas academias por não possuir ao menos um dos programas.

Não critico, nem desmereço quem fez essa opção, mas não sou adepta. Sou de uma época em que ser professor de ginástica era quase um dom, mesma época em que Paulo Akiau, representante dos programas no Brasil, era um dos professores mais badalados e criativos do país e fonte de inspiração para muitas aulas minhas (cursamos algumas disciplinas juntos na faculdade).  Não abro mão da minha criatividade e do meu conhecimento técnico para montar as aulas e não saberia ficar engessada, sem poder fazer correções, sem poder fazer adaptações às vezes necessárias e pior sendo obrigada a executar movimentos que por vezes discordo tecnicamente.

Abriria uma exceção ao Body Jam (dança), dou aulas de ritmos, mas não sou bailarina, por isso tenho bastante dificuldade para criar as coreografias. Confesso que decorar as aulas não me anima. E não foi por falta de tentar! Prefiro aprimorar meu processo criativo e encarar essa aula (apenas uma vez por semana!) como desafio.

Hoje há uma enorme dificuldade em encontrar bons professores de ginástica. Talvez isso se deva ao tamanho do mercado, à variedade de aulas que temos que dar, talvez à péssima base que é dada nos cursos de graduação, o fato é que ouço isso dos meus coordenadores cada vez que tentam contratar alguém novo. Além de ter tido experiências desastrosas fazendo aulas de alguns colegas. Não é à toa que as grandes academias possuem programas de até três meses de treinamento obrigatório antes de permitir que o professor inicie as aulas. Eu já participei de um desses treinamentos e realmente aprendi muito, mas é assunto para outro post. Considerando esse lado optar por programas como o da Body Systems pode ser uma boa saída.

Para aqueles que como eu e as academias que trabalho optaram por não aderir e investem e acreditam em profissionais com autonomia é preciso levar uma lição dessa enorme rede de academias Neozelandesa, a Les Mills: a sala de ginástica merece atenção especial e quando bem trabalhada, tanto do ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista do marketing, é o espaço mais rentável do negócio.