Recentemente um texto sobre academias ao ar livre da Revista Época e publicado no Portal da Educação Física e já explorado no Fique INforma através do texto Academias ao ar livre: vantagens e desvantagens um dos problemas levantados foi a funcionalidade dos equipamentos.

Para que servem os equipamentos? Quais músculos trabalham? Quais capacidades melhoram? Foram algumas das perguntas que Francine Lima da Época tentou responder, em vão. Intrigada com a situação, na primeira oportunidade que tive, fui olhar uma dessas academias ao ar livre e tentar entender para que servem aquelas máquinas.

A academia ao ar livre que visitei está localizada na Cidade da Criança em São Bernardo do Campo. A primeira coisa que me chamou a atenção foi um quadro explicando sobre cada um dos aparelhos. E o quadro não deixa dúvidas ATI – Academia da Terceira Idade.

Esqui

Esse equipamento tem um aspecto semelhante ao elíptico (transport) encontrado nas academias, contudo o movimento realizado é diferente. Enquanto o elíptico, como o nome sugere, descreve uma elípse, o esqui se movimenta para frente e para trás. Ele pode melhorar a função cardiorespiratória, conforme indica o cartaz, dependendo do tempo e da frequência cardíaca atingida no exercício. Já o aumento da flexibilidade poderá ocorrer apenas em indivíduos sedentários e com baixa mobilidade.

Simulador de Caminhada

Parecido com o Esqui, o simulador de caminhada também poderá melhorar a capacidade cardiorespiratória, apesar de não ser mencionado no cartaz. O aumento da mobilidade é controverso, cai no mesmo caso do equipamento anterior. Já o desenvolvimento da coordenação motora, irá ocorrer com o uso de qualquer equipamento novo, diferente daquele que o indivíduo está acostumado, é o que chamamos de adaptação neural.

Com a perda do equilíbrio que ocorre na terceira idade, vejo como um equipamento arriscado, uma vez que exige um nível maior de coordenação motora para ser utilizado.

Simulador de cavalgada

A posição para realizar o movimento neste equipamento é desconfortável. Se considerarmos um indivíduo sedentário pode ser que traga algum benefício no fortalecimento, mas a vocação desse equipamento está mais para a melhora da capacidade cardiovascular, com as mesmas ressalvas dos anteriores.

Rotação dupla diagonal

O cartaz informa sobre o aumento da mobilidade nos ombros e cotovelos o que pode ser verdadeiro em indivíduos sedentários ou com baixa mobilidade nessas articulações. Da mesma forma, ele também poderia aumentar a força em músculos do braço e ombros, mas não é considerado na informação.

Pressão de pernas

Falhei e não registrei a imagem desse equipamento que tem a função semelhante ao leg press horizontal da academia. Gostaria de entender o que tentaram dizer com musculatura dos quadris. Fora isso a função é o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, das coxas ou da panturrilha dependendo da forma que for usado.

Multi-exercitador

Equipamento mágico esse, pois segundo o cartaz, fortalece, alonga e aumenta a flexibilidade. Parecido com as estações usadas em academias compactas, o multi exercitador na verdade poderia apenas fortalecer a musculatura dos membros superiores e inferiores. É possível realizar exercícios de extensão e flexão dos joelhos (pernas), supino reto e inclinado sentado, puxada alta e rotação vertical (?), que provavelmente fortalece os ombros.

Surf

A não ser que o usuário vá surfar ou andar de skate, este equipamento tem pouca função e acho pouco provável que o vovô ou a vovó, vá praticar uma das duas modalidades! Além disso o movimento pode ser prejudicial à coluna, principalmente de idosos.

Alongador

Aqui o fabricante precisa se decidir, se é alongador não irá fortalecer! A ideia desse equipamento é se pendurar nessa espécie de volante e realizar a torção. Temeroso, principalmente para a articulação dos ombros, se considerarmos novamente que a academia foi idealizada para a terceira idade, pior ainda. Outra questão é a coluna. Apesar de ao se pendurar haver tração, o que pode aliviar a pressão intervertebral, a torção pode agravar problemas existentes.

Rotação vertical

Praticamente a mesma função do equipamento rotação dupla diagonal, com um nível de exigência de coordenação motora menor, por ser unilateral. Considerando a musculatura, provavelmente as diferenças serão pequenas, mas só um estudo específico poderia sanar essa dúvida.

Remada

Parecido com os equipamentos de remada encontrados nas academias. Trabalha a musculatura das costas, bíceps e a porção posterior do ombro.

Considerações finais

Sou totalmente a favor de espaços públicos equipados para a prática de exercícios e não compartilho da ideia de que há necessidade de um professor full time para fazer a orientação, maiores explicações podem ser lidas no post Academia ao ar livre: vantagens e desvantagens.

A análise que fiz foi superficial, foi baseada na observação e em alguns fundamentos do movimento, mas sem nenhum tipo de medida específica. Também não considerei que não é possível fazer ajustes de acordo com a estatura do usuário, o que pode prejudicar a postura na utilização e até impedir o uso.

A conclusão que chego é que alguns equipamentos realmente cumprem com sua função, pela similaridade com aqueles já existentes, e outros nem deveriam estar ali, principalmente para exercitar indivíduos na terceira idade. A impressão que dá, e que é uma quase certeza, é que um especialista não foi consultado para a concepção desses equipamentos. E não falo simplesmente de um Profissional de Educação Física, mas um profissional especializado em Biomecânica.

Se entidades como o CREF, se preocupam com a utilização do espaço sem orientação, vou além. Como dar orientação em um espaço onde, pelo menos parte dos equipamentos são inadequados? Minha sugestão é que se pense em uma espécie de selo de excelência, que atestaria a funcionalidade e a seguranças dos equipamentos usados não só nas academias ao ar livre e que fosse proibido aos orgãos públicos a compra de equipamentos que não tivessem esse selo.